Gerenciando trabalho e férias escolares dos filhos: qual é o impacto na empresa e a responsabilidade da liderança?

Tenho falado muito das férias escolares, e a conexão deste evento com a produtividade no trabalho.

O convite aqui é convidar cada um de vocês para ideias, e entendimento de como vêm o assunto. Se você é gestor ou RH me mande uma mensagem para entender melhor a sua demanda. Se você é funcionário, mas não tem responsabilidades de liderança, quero ouvir como esse tema te impacta.

As férias escolares, para muitas famílias, são um período ambivalente. Por um lado, representam uma oportunidade para maior convivência e fortalecimento dos vínculos entre pais e filhos; por outro, trazem desafios significativos de gestão do tempo e das demandas. Para os pais que trabalham, a dificuldade de equilibrar a rotina profissional com o cuidado dos filhos pode desencadear estresse parental, com impactos diretos na saúde mental e no desempenho no ambiente corporativo.

O que de fato acontece é que ainda as mulheres são as grandes responsáveis por acumular a responsabilidade sobre o cuidar e até mesmo nas fontes de artigos e materiais que usei para escrever este artigo, a maioria trabalha sobre o viés do impacto das férias escolares na carreira de mulheres.  Mas o fato é que a responsabilidade de cuidar é de ambos, e resgatar essa informação para você que está num papel de alta liderança é essencial, inclusive para perceber seu próprio discurso frente ao olhar dos seus funcionários ( independente da identidade de gênero).

Os desafios do equilíbrio entre trabalho e vida familiar tanto no Brasil quanto no exterior:

Sobrecarga emocional: Muitos pais enfrentam sentimentos de culpa por não conseguirem dedicar atenção suficiente aos filhos durante as férias escolares, ou por deixarem compromissos profissionais afetarem a qualidade do tempo familiar. Isso pode levar à ansiedade, fadiga emocional e até mesmo a episódios de burnout parental.

Desafios logísticos: A ausência de rotinas escolares estruturadas requer planejamento para manter as crianças ocupadas. Isso pode incluir a contratação de serviços de recreação, babás, busca por atividades extracurriculares ou até improvisação doméstica, gerando pressão financeira e maior carga mental. Afinal, mesmo que haja condições financeiras de pagar, quem fica com a responsabilidade de organizar e buscar a melhor opção?

Estudos apontam que, nos EUA, mães trabalham em média 98 horas semanais ao conciliar todas essas demandas, enquanto no Brasil, as mulheres dedicam quase o dobro do tempo às atividades não remuneradas comparado aos homens

Rotinas desorganizadas: A quebra da rotina, tanto para crianças quanto para os pais, pode desestabilizar o equilíbrio emocional da família. Para trabalhadores com alta exigência ou prazos rígidos, isso aumenta a sensação de descontrole e sobrecarga.

Falta de estrutura corporativa: Em muitos casos, empresas brasileiras e globais ainda carecem de medidas adequadas, como creches internas, horários flexíveis e licença parental equitativa. Quando implementadas, essas políticas reduzem a rotatividade e aumentam a produtividade e a diversidade de gênero nas lideranças. Isso leva os pais a dividirem atenção entre as responsabilidades de casa e as demandas do trabalho, impactando a concentração e a eficiência.

Preconceitos no ambiente de trabalho: Mulheres grávidas ou com filhos enfrentam estigmas e discriminação, como dificuldade de reintegração após licenças ou rebaixamento de status profissional. Muitas relatam isolamento, falta de reconhecimento e ansiedade no retorno ao trabalho.

Homens também podem enfrentar, mas relatos de estudos reforçam que em menor intensidade, visto que em muitos casos são apoiados por fazerem um trabalho extra como o cuidado dos filhos.

Estresse e cansaço: O esforço adicional necessário para equilibrar trabalho e responsabilidades familiares durante esse período pode aumentar os níveis de estresse e levar ao esgotamento, afetando o desempenho no trabalho. Mães trabalhadoras frequentemente enfrentam jornadas triplas, acumulando trabalho profissional, cuidado com os filhos e tarefas domésticas

Absenteísmo e atrasos: A falta de opções de cuidado infantil pode resultar em maior absenteísmo ou atrasos, já que os colaboradores precisam reorganizar horários para atender às necessidades dos filhos.

Impacto na carreira das mães: A desvalorização das mulheres com filhos perpetua a desigualdade de gênero no mercado de trabalho. A criação de licenças parentais universais e maior apoio governamental em creches e escolas integrais são apontadas como soluções que podem equilibrar as condições entre pais e mães

Impactos na saúde mental dos pais: o acúmulo desses fatores pode levar a sintomas como a ansiedade constante devido à sensação de inadequação nas diferentes esferas da vida; irritabilidade e dificuldades de concentração, impactando a produtividade e isolamento social por priorizar demandas logísticas e abrir mão de tempo de lazer ou autocuidado.

Impacto na saúde mental das crianças: elas também podem sofrer impacto psicológico durante as férias escolares se não tiverem atividades adequadas para seu desenvolvimento e lazer; perderem a rotina estabelecida, o que pode gerar desregulação emocional, especialmente em crianças com necessidades especiais, como TDAH e sentirem a ausência de conexão com os pais, devido à falta de tempo ou planejamento.

A ausência de políticas públicas que abordem a conexão entre trabalho, férias escolares e suporte às famílias pode gerar sobrecarga emocional para os pais e impactos na qualidade do tempo com os filhos, prejudicando vínculos e o desenvolvimento emocional infantil.

OS PREJUÍZOS PARA AS EMPRESAS:

O estresse parental não se limita à vida doméstica; ele frequentemente transborda para o ambiente corporativo, trazendo implicações como:

  • Queda na produtividade: A sobrecarga mental diminui a capacidade de concentração e execução de tarefas.
  • Aumento do presenteísmo: Funcionários podem estar fisicamente presentes, mas mentalmente distraídos pelas preocupações familiares.
  • Maior índice de absenteísmo: Problemas relacionados ao cuidado infantil podem levar a atrasos ou faltas.
  • Baixa no engajamento: A preocupação constante com a dinâmica familiar afeta a motivação e o desempenho.

COMO EMPRESAS PODEM AJUDAR OS FUNCIONÁRIOS DURANTE AS FÉRIAS ESCOLARES DE SEUS FILHOS?

Reconhecer as necessidades dos funcionários em períodos como as férias escolares é essencial para mitigar o impacto do estresse parental. Algumas estratégias incluem:

  • Flexibilidade no horário de trabalho: Permitir ajustes temporários na carga horária ou adoção de regimes híbridos/remotos.
  • Programas de apoio à parentalidade: Promover oficinas ou disponibilizar orientações práticas sobre gestão de tempo e saúde mental.
  • Parcerias com serviços de recreação infantil: Oferecer descontos em colônias de férias ou outras atividades que mantenham as crianças engajadas.
  • Promoção do bem-estar psicológico: Ampliar o acesso a programas de saúde mental, com foco em apoio emocional e manejo do estresse.
  • Apoio institucional: Creches no local de trabalho ou subsídios para atividades de férias podem aliviar a pressão sobre os cuidadores.
  • Planejamento prévio: As empresas podem oferecer workshops ou orientações sobre como os colaboradores podem gerenciar melhor esse período.
  • Campanhas de conscientização sobre o impacto emocional das férias escolares no equilíbrio familiar, incentivando a busca por apoio psicológico.

As férias escolares podem ser desafiadoras para pais que acumulam responsabilidades profissionais e familiares. Para as empresas, reconhecer e apoiar seus funcionários nesse momento é mais do que uma questão de responsabilidade social; é uma forma de fomentar uma cultura organizacional saudável, produtiva, com um diferencial competitivo e empática. Afinal, um colaborador mentalmente equilibrado é também um profissional mais engajado e capaz.

Investir no bem-estar dos pais é, sem dúvida, um passo estratégico para empresas que valorizam tanto seus resultados quanto às pessoas que os constroem.

Autora: Camila Andreucci

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