O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, assunto delicado e sensíivel que precisamos conversar com sensibilidade e responsabilidade seja no ambiente de trabalho, família, amigos e entre profissionais de saude e educação.
O tema ainda é um tabu, e eliminar estes estigmas é fundamental para prevenção e também a promoção da saúde mental das pessoas. Embora este seja um tema delicado, sua relevância no ambiente de trabalho é inquestionável. A liderança tem um papel fundamental na criação de um espaço que promova acolhimento, sensibilidade às questões humanas e no apoio àqueles que possam estar enfrentando crises silenciosas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), na pesquisa publicada em 2019, cerca de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano no mundo, este número ainda é subestimado. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Muitas pessoas que cometem suicidio estão em idade produtiva profissionalmente, e o ambiente de trabalho pode tanto ser um fator de proteção quanto um gatilho para crises emocionais intensas. Pressões, metas inalcançáveis, excesso de responsabilidades, relacionamentos conflituosos e desrespeitosos e a falta de suporte adequado podem agravar transtornos mentais, como ansiedade e depressão, que são fatores de risco para o suicídio.
A liderança não pode subestimar o impacto que o ambiente de trabalho tem sobre a saúde mental dos funcionários e de si mesmos. Além disso, a cultura organizacional desempenha um papel crucial na forma como esses temas são abordados e percebidos.
É essencial a liderança atuar de forma proativa, criando condições favoráveis para que abordar temas da saúde mental e prevenção de doenças seja uma prioridade. Aqui estão algumas sugestões de abordar esse tema delicado mas necessário no contexto do Setembro Amarelo e além:
- Crie um Ambiente Seguro para Conversas Sobre Saúde Mental
É fundamental que os colaboradores sintam-se seguros para falar sobre suas dificuldades emocionais. A liderança deve:
“Quebrar os tabus”: Falar sobre saúde mental não deve ser um tabu. Ao abrir espaço para discussões francas e acolhedoras, você ajuda a normalizar o tema e de fato prevenir situações de adoecimento e até desfechos trágicos como o suicídio.
Ser exemplo pessoal: Líderes que compartilham suas próprias experiências com saúde mental, ou que se mostram abertos a essas conversas, inspiram confiança e reforçam uma cultura de empatia e acolhimento.
Políticas de portas abertas: Estabeleça canais de comunicação onde os colaboradores possam expressar suas preocupações sem medo de retaliação ou julgamento.
- Treinamento e Sensibilização da Equipe
A educação sobre saúde mental deve ser parte integrante da formação de líderes e colaboradores. Ofereça:
-Treinamentos para que a liderança reconheça sinais de alerta de problemas emocionais, como mudanças no comportamento, queda no desempenho e isolamento.
-Workshops sobre saúde mental e primeiros cuidados psicológicos, preparando os gestores para lidar com situações de crise de maneira assertiva e humana.
- Incentive o Equilíbrio entre Vida Pessoal e Profissional
A síndrome de burnout está diretamente relacionada ao esgotamento emocional e pode levar a crises severas. Para evitar isso:
– Promova políticas de equilíbrio: Incentive práticas que favoreçam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, como flexibilidade de horários e home office.
– Respeite os limites: Como líder, respeite os horários de descanso e desconecte-se de exigências fora do expediente.
– Reconheça o esforço da equipe: Recompense não apenas resultados, mas também o esforço e dedicação contínua, evitando sobrecargas.
- Ofereça Suporte Emocional e Recursos Adequados
Um ambiente de trabalho saudável também oferece recursos para o cuidado com a saúde mental. Isso pode incluir:
– Programas de apoio psicológico: Ofereça convênios com profissionais de saúde mental qualificados ou serviços de suporte como terapia online e grupos de apoio.
– Acesso a informações: Distribua materiais sobre saúde mental, desmistificando transtornos como depressão e ansiedade, e incentivando que as pessoas busquem ajuda quando necessário.
- Esteja Atento aos Sinais de Alerta
Muitas pessoas que enfrentam crises emocionais podem dar sinais de que algo não está bem. Como líder, esteja atento a:
– Mudanças abruptas de comportamento: Alguém que sempre foi engajado e passa a mostrar desânimo ou isolamento pode estar enfrentando uma crise emocional.
– Queda no desempenho: Dificuldades para cumprir prazos ou mudanças na qualidade do trabalho também podem indicar problemas emocionais.
– Expressões de desesperança: Comentários sobre estar “cansado de tudo” ou “não aguentar mais” devem ser levados a sério.
- Apoie a Rede de Prevenção
O Setembro Amarelo é uma oportunidade para fortalecer a rede de prevenção ao suicídio dentro das organizações. Como parte dessa rede, a liderança pode:
– Promover ações de conscientização: Realize palestras, campanhas internas e divulgue a importância do cuidado com a saúde mental.
– Fortalecer os canais de ajuda: Divulgue amplamente os serviços de suporte, como o CVV (Centro de Valorização da Vida)onde o atendimento é via telefone (188), presencial , por chat ou email, e incentive o uso desses recursos quando necessário.
A liderança tem uma responsabilidade direta não apenas com a produtividade, mas com o bem-estar de seus times. A promoção da saúde mental no ambiente de trabalho é uma estratégia essencial para criar um espaço onde as pessoas se sintam valorizadas, apoiadas e seguras para enfrentar seus desafios emocionais.
Ao longo da sua vida, reflita sobre o impacto de suas ações como líder. Esteja presente, eduque sua equipe e crie um ambiente onde o cuidado emocional seja uma prioridade contínua, não apenas durante uma campanha, mas durante todo o ano. Juntos, podemos prevenir o suicídio e promover vidas mais saudáveis e equilibradas.
Se este artigo te ajudou, compartilhe com a sua rede e contribua para espalhar a conscientização sobre a importância da saúde mental no ambiente de trabalho.
Obrigada,
Camila Andreucci
Psicóloga e fundadora da Rewire Life – Mental Health